
Quarta-feira da terceira semana da Quaresma WCCM Reflexões da Quaresma “É estreito o caminho que conduz à Vida e poucos são os que o encontram” (cf. Mt 7,13-14 e Lc 13,24). Assim como o símbolo cristão da pobreza ou a noção budista de vazio, o caminho estreito não soa muito atraente. Associamos com o aperto, cerceamento de nossa liberdade de movimento e intelectualmente com pontos de vista estreito e cheio de preconceitos. Então o que poderia ser interessante sobre o caminho estreito? Em primeiro lugar, é realista. Quando estamos tirando uma foto, estreitamos o foco da lente no sujeito com a ajuda do zoom. Podemos nos aproximar mais do objeto ainda que estejamos longe dele. Ainda que estejamos interessados numa perspectiva de panorama, precisamos focar em alguma coisa, mas sabemos que embora possamos ganhar em amplitude de campo visual, acabamos perdendo em senso de intimidade. O caminho estreito é um bom símbolo porque sugere solitude, que significa a peculiaridade de um encontro pessoal, não um isolamento ou solidão. Num caminho estreito com os outros podemos caminhar individualmente, sem perder o senso de comunidade. A meditação é um caminho estreito – solitário, mas em modo de zoom, focando somente no mantra; mas depois da meditação, quando retornamos aos largos caminhos da vida, podemos aumentar o zoom e todo o contexto torna-se mais claro, ou ao menos o que conseguimos enxergar desse todo. O contexto todo torna-se mais evidente e mais focado por causa do tempo que gastamos em aproximação máxima. Quando olhamos para uma vista de alcance panorâmico, intuitivamente procuramos por objetos ou ângulos que podemos focar ou organizar, compreender, numa leitura contextual mais ampla. O tempo que gastamos no caminho estreito não está desligado das grandes linhas da vida. De fato, com a prática adequada, não perdemos o foco da atenção dos momentos de meditação ainda que estejamos imersos novamente nas outras atividades e interagindo com elas. Esta habilidade de manter foco duplo – manter-se tranquilo em meio à ação, ser silencioso em meio à comunicação – é o que Jesus se refere como a “única coisa necessária” quando está tentando acalmar a fragmentada Marta. O caminho estreito conduz à vida bem vivida, o individual leva à comunhão, foco que leva a uma visão mais ampla e panorâmica. E “poucos são os que o encontram”? Isto não significa que somente uns poucos seletos têm a permissão de entrar, mas que não são muitos que dão seu tempo e espaço para descobri-lo. Qualquer um que, assim como Jesus, o tenha encontrado, lamenta que mais pessoas não o façam. O tempo da Quaresma é especialmente para isso: aprofundar o nosso conhecimento do caminho estreito.